domingo, dezembro 28, 2008


a partir de agora, as postagens do "pelúdio ao homem de palha" ficarão restritas ao blog com o mesmo nome(tem um link ali ao lado). acho que assim o vomitando fica menos chato, ou coisa que o valha.
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são cadáveres
a sala está cheia deles
posso contá-los noite afora
até cansar

e assim o faço

chamando-os pelo nome
acarinhando-os feito crias
porque míseros
iguais a mim

(é patético vê-los sorrir
é patético sabê-los aqui)
>

>
trazem nos olhos a cor do esquecimento
pois não sabem mais viver
sem que o medo os consuma
impunemente

e assim o fazem

celebrando a mediocridade
resguardando as aparências
porque bastam-se
agarrados a si

( é mordaça vê-los destino
é assombroso sabê-los meu fim)



quarta-feira, dezembro 17, 2008

"prelúdio ao homem de palha".(não-livro) tomo I


finitimus


fresta onde ninguém
se move
és presságio que descobre
vozes
amontoadas ao acaso
qual
aurora de anjos caídos

(
musgo

relva


)

terça-feira, dezembro 09, 2008

"prelúdio ao homem de palha" tomo I

mendacium
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.
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do que chamam vida
a inervação
onde toda claridade recua
sei
haverá homens
soterrados porque loucos
e em seus músculos e ossos
páginas em branco
.
.

do que dizem morte
o desassossego
onde toda fé desmorona
sei
haverá anjos
esquecidos porque lúcidos
e em suas asas e pálpebras
nuvens de chuva

quinta-feira, novembro 27, 2008

"prelúdio ao homem de palha" tomo I



sanctus

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multidão, multidão
vozes que te perturbam
mas estás só

o que escutas
quando vence o silêncio
são memórias baldias

que não partem
que não ficam
em paz



segunda-feira, novembro 17, 2008

"prelúdio ao homem de palha".(não-livro) tomo I


fremitus


escutei vozes
vindas do lado de fora
chamarem meu nome
sem que houvesse resposta

tinham olhos rasos
desertos em forma de mãos
e o peso das auroras
esquecidas sob os escombros do amanhã

(onde estavam
quando me amortalharam os sonhos
a esperança e as preces
aqueles nascidos de mim?)

sábado, novembro 01, 2008

"prelúdio ao homem de palha".(não-livro) tomo I


ao carlos sousa de almeida


praestantia


há um nada
a corroer-me a vigília

espaço turvo
entre os mortos
os que ficam
os que vagam
dentro de mim

eu gestei o sonho
do qual são vocês
apenas a pálpebra


há rezas caducas
só ouvidas quando noite

ponte atada
ao desassossego
dos que imolam
dos que arrefecem
alheios a mim

eu pari a sentença
da qual são vocês
apenas o verbo

segunda-feira, outubro 20, 2008

"prelúdio ao homem de palha". (não-livro) tomo I


mutus

sei do abandono a quietude. meus sonhos vêm de lá. a demência que me anima é atroz. despedaça a esperança. emaranha o horizonte. e escapa. escorraçado fui dessa cidade de mil nomes ao cair da oitava noite, enquanto o outono lentamente jazia trancado em sombras. reunidos, aqueles homens eram coisa, amontoado de corpos volumosos e sujos a voltarem ódio contra mim. abjetos, por que esconderam o rosto quando passei? por que sussurraram às minhas costas? por que oraram em desespero àquele deus benevolente, risível farsa por eles inventada? por que roubaram meu excesso, ataram meu grito, serviram-se do meu saber, reviraram minhas memórias? achavam que assim mudariam o que lhes escrevi como destino? digo-vos então, homens acobertados pela fé, existirem verdades que chegam pouco antes de o arrebol, trazendo em si as vicissitudes da noite. espirais, alimentam a penúria dos injustos, esvaziando de estrelas o céu. opacas, desconhecem o orvalho e daninham o vindouro. quando mortas, descerram temores. pertencem a lugar nenhum. vide, a solidão peregrina alcançou o luar. eis que se completa a noite. sob o canto da rasga-mortalha, violado pelo jugo ferrenho do olhar de cada um de vós, em desatino sentencio: aqueles que hoje me tripudiaram, amanhã decerto temerão.

segunda-feira, outubro 06, 2008

"prelúdio ao homem de palha". (não-livro) tomo I


amentia

sou meu próprio sumo. nasci de minhas entranhas, antes da luz e do verbo. na palma das mãos cicatrizei o fim de cada estação, ritual amortalhado ao qual chamei destino. desnudo o tempo, apenas a solidão do meu grito me habitava. nem sonhos ou preces, estrelas cadentes ou cantigas, nada, nada havia ao meu redor. por isso fui sementeira e da terra úmida fiz brotar os filhos que hoje renegam minha imagem. por eles criei-me enfermo de toda verdade. por eles aglutinei-me ao silêncio, larva que me infesta a razão. e quis meus olhos avessos à luz. e quis-me refúgio de loucos e pedintes. mas essa multidão nascida de mim, essa horda de homens cambaleantes e vis, zombou, descreu, enlameou o meu nome. porque fracos, porque vãos, porque erros, um após o outro, ruirão. e ao caírem de joelhos, terá chegado a minha hora. sou a única morada, o verdadeiro caminho. a redenção.

segunda-feira, setembro 22, 2008

"prelúdio ao homem de palha". (não-livro) tomo I

ao rubens da cunha
agminis

há muito caminho por essas paragens. tateei o abandono. fiz da ventura sopro e desatino. nomeei os filhos que não tive. ensinei-os a sonhar os sonhos que não soube. mas apunhalaram-me as costas, meus filhos. desejaram-me morto, ossos e pó. auscultaram-me o coração, buscando dos meus sentires o controle. quanta blasfêmia! como ousaram? ao entardecer chamei-os à morada dos justos, onde a loucura entrecruza as mãos e o céu parece oco, resignado pela imensidão azul. sê prudente, disse ao primeiro. ao segundo murmurei cirandas, restos de uma infância envelhecida que lhe carcome as pálpebras. fiz-me labirinto com as virtudes que vocês não conseguiram suportar, escutaram os demais. sou quem sonambula misérias alheias ao tempo. de migalhas faço meu pão. de assombros, a saliva e o verbo. tolos! pensaram vocês que eu ruiria porque atraiçoado? caída a noite o medo se alarga, infestando de leitos o despertar da felicidade. como sairão daqui? amedrontados feito cães, fugiram aos bandos. sei que acenderão velas ao que desconhecem. as súplicas que deixaram para trás, carregarei comigo até livrar-me do outono. há noite sobrevinda em mim. anjos guardarão meu nome.

segunda-feira, setembro 15, 2008

"prelúdio ao homem de palha". (não-livro) tomo I


obscurum est



- há traidores entre os que ficam.

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- estendo-lhes a mão, num gesto apiedado?

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- têm medo, escuta-os.

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- caída a noite, definham agarrados aos sonhos que não possuem. trazem na boca o sopro da desventura e em seus ossos crescem larvas pegajosas, arrodeadas pelo desamparo.

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- dissésseis seus nomes e já teriam partido?

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- anciãos, aqui chegaram e aqui ficarão até a morte. pios, sussurram antigas preces.

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- arranco-lhes os olhos?

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- deixa-os, a fé lhes rapinará o arrependimento.

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- sê clemente.

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- erguerei pontes entre falsos céus. penetrarei-me do verbo. selarei-lhes o próximo alvorecer.

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- anjos anunciarão teu nome.

segunda-feira, setembro 08, 2008

"prelúdio ao homem de palha". (não-livro) tomo I


hymn


girassóis adoecem em minhas entranhas, eu disse, enquanto dava-lhes as costas como se fosse possível esquecer quem são. míseros, como ousam julgar meus atos? sabem vocês a crueza das palavras a roer meu crânio? restos de esperança espumaram em minha boca, mas vocês aqui não estavam quando os chamei pelo nome. condeno-lhes a rastejar, então. porque há cores que escapam ao envelhecer e disso vocês não sabem. porque há desertos invioláveis sob meus pés e isso vocês não suportam. porque na terceira manhã pari-me imune à paz interior e por isso vocês padecem. devolvo aos que ficam as memórias. roubo-lhes a vigília. esmorece o céu. anjos venerarão meu nome.

domingo, agosto 31, 2008

"prelúdio ao homem de palha". (não-livro) tomo I


agnus dei


- cheguei até aqui à revelia de deus. não pretendo voltar.

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- cobra um preço, a felicidade?

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- carrego em meu bolso hóstias que não aceitei. era tarde, minha mãe havia morrido e do meu pai sobraram arremedos. cresci só. cedo perdi meu único irmão.

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- cobre-nos de silêncio, a esperança?

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- contemplam-me os homens. buscam em mim respostas que aliviem a insignificância da vida quando trilhada ao avesso. demência. demência é o que revela a alma de cada um.

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- abençoa-os então.

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- escuta: devolvo aos que ficam o trigo. roubo-lhes a fome. aurora por chegar.

domingo, agosto 24, 2008

"prelúdio ao homem de palha". (não-livro) tomo I


angelus

é preciso inventar um dia de sol e de paz. rirão de mim, dizendo a lucidez escorrer pelos cantos da minha boca e que a aflição dos meus órgãos, desastre, desagrego, rumará comigo até o fim. à porta, são vozes confusas e apressadas a paisagem que me esmiúça o desespero. ergo os fantasmas e sigo. sombras, destino. afã, amargura. há tormentos lacrados em meus olhos, horizonte a me espreitar. há um aporte ao que resta da minha dignidade. anjos ecoarão meu nome.

quarta-feira, agosto 13, 2008

I
tão distantes de ti, meu deus
os caminhos que me trouxeram aqui
e só agora eu sei-los,
regresso

II
tão incerta de mim, meus deus
a fé que me alimenta de esperança
e só agora eu sei-la,
anomia

III
pois se a ti coube, meu deus
escrever o que será meu destino
sou em quem traz nas mãos as linhas
tortas

terça-feira, agosto 05, 2008

ruptura – sombras invertidas remetendo
ao interior dos ossos
cárcere de palavras enervadas – MÚSCULOS
em hipertrofia anabólica
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<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<< há um padrão nisso tudo
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<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<
um ciclo
(tiquetaquear)
amorfo
que
sobre-
>>>>>>>><<<<<< >vive>>>>>>>>>>>>>>>>>distante
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<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<
>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>
[o limite é impreciso quando o corpo
<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<sonha]
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>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>
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sabemos agora
ele veio com a primeira aurora
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e no hálito trazia saudade –

um eco sujo de mar

terça-feira, julho 29, 2008


carrega a ti enquanto filho

o ressoar da infância

umbilicada ao tempo que te vê passar

(tem sede tem fome tem medo )


e transmuta o silêncio
dos teus pés molhados de rio
nascente da chuva
que não vem



por acaso sabes quem és

ou somente centelhas

sonhares?

terça-feira, julho 22, 2008



ao rubens da cunha



colo sob as pálpebras
a cidade que não me reconhece

perdidas em memórias
suas casas paralelepípedos e praças

vivem em quimeras
a criança que em mim não sei mais

terça-feira, julho 15, 2008


anjos da guarda
amontoam-se à minha cabeceira
exaustos que estão
por velarem meus sonhos

e porque sei não sobreviverem
ao que chega com a aurora
em louvor e glória
dormirei seus pesadelos







terça-feira, julho 08, 2008


uma longa espera trouxe-nos aqui
encobrindo marcas dum futuro refeito
por retalhos ungidos de sol:
o empalhar do tempo,
adormecer medroso
do que fomos em vida

domingo, junho 29, 2008


palavra – sementeira
germina verbos
(ecos)
no ventre
oco
(rabisco em azul)

cicatriz do silêncio

quinta-feira, junho 12, 2008

no olho
– paisagem



dilacerado por cores



atravessa-me
o alvorecer



respingando poesia

segunda-feira, junho 02, 2008


busco a esperança
sem que ninguém compreenda
a dor que me escava
os temores que me consomem
o silêncio que não me abandona
a demência enfurecida
que costura meus sonhos
ao avesso


busco-a madrugadas afora
entre memórias e escombros
até que sombras recaiam
sobre meus ombros fustigados
lançando-me de volta ao início
margeado pela confusão de quem
regressa carregando um cadáver
dentro de si

sexta-feira, maio 23, 2008


a carne
fez o verbo
– signo tempestuoso –
saliva e carvão

terça-feira, maio 13, 2008


fantasma, medo
o silêncio que sobrevive ao abandono
é um cão faminto, inquieto
velado por sombras alheias

vide, descobriu-nos pequenos
frágeis, mentirosos
multidão envolta em preces
ansiando por dias melhores

prenúncio, eis que finalmente chega
aportando naquilo que resta
limiar da sanidade, onde somos
margem e farol

domingo, abril 27, 2008


tardavam a surgir
sempre aos montes
respirando de par em par
entre sobreiros e vielas
descalços, lá longe
escrevendo destinos
destroçando esperanças
como se fossem deus
porque não se importam
com as tardes desmoronando
em murmúrios a nos consumir
os sonhos, vagarosamente

quinta-feira, abril 17, 2008


PRELÚDIO
neste tempo miúdo que me cabe
silencio você.
desfaço as páginas do sol-abismo
sentencio você.
nesta estação deserta que me inverna
re-leio você.
imunizo as artérias do coração-sepulcro
renego você.

*

INCÔMODO
eu não caibo em sentimentos
eu não acredito na felicidade
eu caminho lugares sem cor
eu emudeço os pingos da chuva
eu guardo fios de memória
eu acumulo esperança nos ossos

*

PESAR
tenho comigo um sol poente
- a mim faltam-me estrelas cadentes -
afundei meus barquinhos de papel
- fiz do lamento uma pálpebra-lodo -
meu destino, escrevi-o invertebrado
- desde o início fui apenas um falso sonho-bom -

*

ADEUS
sou um tumor que chegou ao fim
um nó atando teus fantasmas
uma fratura expondo teus tropeços
um erro negando teu deus
um lamento desfocando teu olhar

eu, espantalho.

quarta-feira, abril 09, 2008


contenho a madrugada
espreito o silêncio
meus medos reunidos
respiram-me a sobrevida
que perdura sobre um livro
de páginas abertas

domingo, março 30, 2008

saberá a tarde que finda, ó pai
no ventre da noite
fazer-se aurora?

quinta-feira, março 20, 2008

começaram a apodrecer
pai, mãe, avós
a casa toda de uma só vez
e riram de si
e nós também

quarta-feira, março 12, 2008


pro rubens da cunha
I
permaneciam os corpos
escorados sobre ângulos
mudos

II
da alma não mais sabíamos
curar-lhes os pesadelos
malsãos

III
mortos estão
velemo-los libertos dos anjos
medrosos

IV
em memória guardá-los
volver ao medo uma prece
malsim

segunda-feira, março 03, 2008


descobrira com a morte do avô
que ao respingar nos telhados
memórias deixadas para trás
a chuva escreve o destino
de cada um de nós

(deságüe do céu
àqueles que ficam
revela segredos
nascidos dos anjos)

quinta-feira, fevereiro 21, 2008


no princípio eram coisas,
não eram palavras

[estavam todas lá, espalhadas]

o verbo surgiu depois,

deus.

domingo, fevereiro 10, 2008


descrentes por aqui passaram
e com olhos ruidosos
e com mãos aflitas
e com mentiras veladas
deixaram aos malsãos
os escombros da fé

(hão de voltar
mais cedo ou mais tarde
para enfim adormecerem
sob o peso infindo dos vossos pés)

domingo, janeiro 27, 2008

II

a culpa nas mãos dos homens
ei-la aqui, envelhecida
arrastando sua carcaça pela casa
desmemoriando em minhas entranhas
o caminho a ser proscrito




malograda e importuna
reconhece meus assombros
transfigura-me em rancor
e repete a si mesma
distante de mim
infortúnios




você dirá que eu mesmo a possuo e sombreio
mas dela refugio-me porque todo homem precisa descrer
em algo ou alguém assim tão límpido




nela sou o nexo




dela, minha escuridão

quinta-feira, janeiro 17, 2008


o que hoje ouvimos em ti, antes chamaríamos vida? frágil, feito gotas de chuva descendo pelo telhado. cansado, feito amanhecer que desconhece o orvalho. antes, quarto algum acomodaria tua felicidade, escrita em desespero e embriaguez? não havia arrependimento ou culpa e isso te fazia sorrir como jamais sorriria alguém. por que então aqui estás, apequenado diante desse deus a quem não davas atenção? tuas palavras não tinham contornos e revelavam de ti o sombrear da lucidez. tua loucura atravessou a alma dos homens e alcançou a infância por eles deixada pra trás. sabias o nome dos que amavas, não eras esse trapo desmemoriado que mija em si mesmo, mal sabendo a quem chamar quando a dor é insuportável. é o que resta. é o que fica. tuas mãos ossudas e pálidas. teus olhos vazios e fixos. e os teus cabelos...como são belos os teus cabelos quando refletem os primeiro raios do sol.

segunda-feira, janeiro 07, 2008


um sonho
- poema

entre ruínas
vago

respira sob as pálpebras
do inverno
deserdado pelo silêncio


dos que aqui estamos

filhos teus


guardiões do sol