domingo, abril 22, 2007


ao carlos besen.

quando descobri sementeira ao lado do peito,
eram mãos o arado do medo
brotando chuva miúda
no ceifar da ausência.

enluarado porque em silêncio,
donde solidão crescia
fui um vulto no palhegal
enraizei-me erva-daninha.

terça-feira, abril 17, 2007


passou
você pode descansar
já não há mais dor alguma
o sofrimento procura outros cantos
inexiste lugar para ele em ti...

passou
era só um medo tolo
não havia nada no lado de lá
apenas um chão feito de nuvens
para flutuares feito criança...

dorme agora, amigo
a vida escapuliu das tuas mãos
e deixou um vazio abarrotado de saudade
que memória alguma acalentará

(porque o teu sorriso
as estórias que gostavas de ouvir
e os teus abraços de cantiga-menino
a nós não aquecem mais...)

ao amigo Constantino. sonhe em paz.

quinta-feira, abril 12, 2007

recortei
do céu que você mandou
um pedaço de sol
lancei-o aos pássaros
– aturdidos
voaram,

tempestade.

segunda-feira, abril 02, 2007

da série retraço


por causa dos homens protejo o chão desse plantio onde a fé descobre carcomida estar. colho os sonhos que brotaram do esquecimento, alimentando-os como se meus fossem – tenho nas entranhas matéria desconhecida pelo sol. ó deus! escapo às noites, mas não aos seus pirilampos de sombras. povoa-me o temor. guardo vigília, vossa fé deixou-me só.

por causa dos homens curvados sobre ninguém, estórias de visagem já não se escutam mais. outrora, suas crianças sombreavam-se dos meus ombros brincando de inventar cores – ainda as guardo na memória, estranhas cores sem nome. ó deus! nem assim acolheu-me a felicidade, somente corvos a bicarem meus olhos. tenho medo, vosso desdém conhece-me os fantasmas

a eles, homens, eu devo escárnio e culpa. devolvi-lhes a ilusão da bem-aventurança. assim pude fazer-me eterno – minhas raízes sobrevivem ao cio da terra e à sede que arranca do céu tempestades. escondo dos infestos o destino. são minhas as almas trazidas pelo orvalho. aos meus pés repousam anciões desmemoriados. quando partirem, aqui estarei. eu, espantalho.