segunda-feira, maio 22, 2006



PERDÃO
[O ESPANTALHO SANGRA]

pai, perdão
sou um homem silente
que ainda reza todas as noites
e crê em anjos- da- guarda

pai, perdão
permita que eu creia
permita que eu fale
permita que eu de ti me aproxime

pai, perdão
um dia todos erramos
um dia todos tropeçamos
um dia todos fracassamos

pai, perdão
mesmo que o erro tenha sido mentir
mesmo que o erro tenha sido temer
mesmo que o erro tenha sido sonhar

perdoa, pai

[ainda hoje nos imaginei a conversar
e você era mais alto do que eu pensava;
você falava as palavras que eu falaria, verdades;
você olhava fixo aos meus olhos, silêncio;
você alcançava as minhas estrelas cadentes, permissão;
você apontava minhas MENTIRAS e as jogava no meu ROSTO;
você desossava as minhas FRAQUEZAS e as lançava ao VENTO;
você investigava minhas VIRTUDES e de todas DESACREDITAVA;
você me APEQUENAVA e mesmo assim eu NÃO desistia]


pai, perdão
porque no meu coração-espantalho
onde jazia numa sala esquecida na memória
hoje sorriem auroras bretonianas
germinadas pela menina que eu amo


pai, perdão
dá-me tua benção
dá-me tua permissão
é só o que peço

confia em mim, pai
porque eu jamais a deixarei só
porque eu jamais a farei sofrer
porque eu jamais direi adeus

acredita em nós dois, pai
e todas as nossas primaveras
e todas as nossas manhãs
serão de girassóis.

pai, perdão.

terça-feira, maio 16, 2006


acredita nas mãos que oram
– deus está aqui –
a fé é menor que o medo da morte
– o menino permanece sentado na cadeira de balanço –
os choros agora estão mais altos
– pressente que alguém tocará nos seus ombros e dirá que tudo terminou –
havia um cheiro de dor ganhando vida nas paredes do quarto
– no seu faz-de-conta esse dia não chegaria jamais –
o lar agora estava incompleto
– todas as brincadeiras entristeceram –
os sonhos não deveriam ter fim
– o futuro agoniza intercalado aos lamentos –
pequenos somos diante da perda
– a permanência nos afoga em certezas –
traga um adeus que seja frágil
– ainda sou teu filhinho nas minhas memórias –