quinta-feira, setembro 23, 2010

cantiga aos meus quarenta e três anos

incrédulo,
fiz dos sonhos
um lugar rarefeito.
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[amanheceríamos de novo e a infância não teria partido
nem a morte carregado nossa mãe]
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por que essa procissão de descalços ajuíza meus infortúnios? são vocês os que percorrem meus desatinos? eu chegaria até aqui se estivesse sozinho?
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a casa está vazia
nem vozes
nem sombras
nem preces
vem nos visitar
.
[o tempo data a beleza. cambaleamos rumo a lugar nenhum]
.
das minhas vértebras arrancaria felicidade
ou um momento de paz
que me livrasse daqui.
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quarta-feira, setembro 08, 2010

há versos meus entranhados nessa cidade
mas eu não os tenho
devorado que sou pela métrica dos arranha-céus daqui
.
onde meus ossos viram esquinas
minha pele, asfalto ao meio-dia
e dos meus olhos resta o abrir e fechar automático das portas dos trens do metrô
.
mas é só mais um dia seguido de outro dia,
atravessando-nos indistintamente
nós, iguais uns aos outros
de tão burocráticos
indiferentes
e civilizados que somos
[eis nossa beleza]
.
venham...
sirvam-se de mim
restituindo-me o homem
outrora sonhos, mata, febre e nanquins.
.