domingo, agosto 27, 2006


deus
eu sou o silêncio
que lhe falta
as mãos serenas
que lhe acolhem
a margem do rio
que lhe revela

o amor
a ternura
a felicidade
a fé

que lhe derrota
quando a morte
vem nos assombrar

segunda-feira, agosto 21, 2006


você olha por dentro dos meus ouvidos
dos meus olhos e da minha boca
pressiona a minha cabeça
com dedos frios e meticulosos
procurando por culpa e pecado
querendo espremer a minha alma
dissecar-me os sonhos
punir-me os sorrisos
como se eu fosse igual a ti
como se em algum momento
eu tivesse sido algo além
desse espantalho isento de dor
mísero fazedor de palavras
compreendidas em lugar nenhum

não!
basta!
silencie!
desapareça!

tire seus dedos de dentro da minha cabeça
os meus olhos,
deixe-os verdejarem no jardim
junto aos sonhos e sorrisos
livrai enfim
a minha alma
das suas sentenças mentirosas

(o seu julgamento hipócrita e covarde
escarra-os diante do espelho)

porque eu não sou feito de medo e desamor
porque eu não sou feito dessa verdade nojenta
a entupir suas artérias e empanturrar seu estômago
fazendo de você um pedaço de vida ensinado
para esquecer por todo o sempre
debaixo do céu existirem girassóis
e que as cirandas e as cantigas de ninar
sobreviveram sim aos agouros
desse deus por você um dia manchado
ao acreditares que isso era ter fé

terça-feira, agosto 15, 2006


qual sorriso vestirás
quando o palhaço de domingo
trouxer teus amanhãs
estrangulado em luzes
que de sombras, nada mais
pois estivemos aqui
antes ?

quinta-feira, agosto 10, 2006


para mari


havia minhocas germinado vida no coração do menino
,todos diziam que era doença
então trouxeram médicos com olhos de vidro
que diagnosticaram algo com nome esquisito
– médicos dão nomes esquisitos ao que não entendem –
& vieram os remédios com gosto de céu sem nuvens
(doses exatas, a cada hora exata;
todo dia, até quando?)


havia minhocas germinando vida no coração do menino
noite após noite, por meses que nem lembro quantos
mais e mais minhocas no coração do menino
trazendo sonhos carinhados por anjos
– sorrisos precisam de carinho, seja no frio ou no calor –
& vieram as noites vividas entre estrelas cadentes
(cores largas, a cada mínimo instante;
toda noite, pra sempre?)


eram minhocas germinando vida no coração do menino
era amor que crescia esparramado pelo corpo inteiro
nos ossos e na alma, o menino amava
só precisava da menina dos girassóis ao seu lado
– mas isso não podia no mundo onde os adultos viviam –
& vieram paredes pintadas de branco e sem cheiro de chuva
(sorrisos costurados, solidão;
por toda a vida, aonde você está?)

segunda-feira, agosto 07, 2006

palavras
(sentenças desconexas - cores pintadas num quadro sem alma)

emoções
(trilhos exatos - gotas de chuva presas no caderno que joguei no quintal)

sonhos
(risíveis - não há mais brinquedos espalhados no quarto do meio)
amor
(temores - a solidez lentamente ocupando meus ossos )
- eu, silenciado -