segunda-feira, abril 18, 2005


Você não tem uma palavra que sele meus sonhos e me faça adormecer quando a madrugada trouxer a solidão? Nunca soube do sol as trilhas que partem pra lugar algum – feito de silêncio e grama com cheiro de infância. Você não virá dizer que conhece a saída pra dor que esfacela as reminiscências do azul feito de restos? Nunca descobriu os segredos que a chuva trazia todas as tardes em Belém do Pará – sentiu que era inútil prosseguir, as feridas estavam cauterizadas e havia sombras onde houvera paixão.

sábado, abril 16, 2005

Hoje,a manhã pareceu-me distante e acordei vestindo lucidez – minha pele coberta de traças,as páginas da minh’alma apagadas e sem cor. Antes de saber a verdade abandonada no vazio que explode no centro das estrelas ao tocarem o sol, eclipse abraçou meus temores – dados lançados sobre teu corpo nu, a fome devastadora vomitando serenas paisagens e anjos anêmicos. Hoje, esvaziei as gavetas e recobrei a posse dos meus míseros sentidos - as palavras mofadas pelo esquecimento atroz, as linhas do amanhã incertas e sabedoras da dor. Antes de ser invadido pelas circunstâncias do entardecer borrado de luzes e sombras misturadas aos olhos castanhos e tristes, o silêncio sangrou meus rancores – o palhaço escapou ao domingo, a miséria incrustada na alma órfã de ti a desenhar girassóis no jardim que nunca tive.

quinta-feira, abril 14, 2005

Quis prolongar a tarde – mas o sol resistiu e as lembranças escoaram vala abaixo. Adiante, a lua drakeniana sustentava-se sobre xícaras e palhaços tristonhos – equilíbrio desesperado, falta-lhe ar sempre que uma estrela envelhece. Medulares, as vozes eram vistas mesmo quando o frio alojava-se nas dobras cutâneas [ruminando os sonhos, todos eles, a dor parecia diminuir – esse era o plano escrito em letras intempestivas] O movimento dos olhos indicava lucidez. Os insetos girando em torno da luz, normalidade. A apatia encerrava a moldura – compressas de gaze sobre o amor em abundância. Contados nos dedos, os dias passam mais lentos e as noites são arremedos esquizóides.
Quem saberia ninar os sonhos que no quarto vazio ainda respiram esperança? Quem poderia, no meio das cinzas, arrancar chuva, besouros e sorrisos de ciranda? Das vísceras, a alma desnuda e febril? Por quantas manhãs mais arrastar-se-ão as débeis condolências que circundam este fantoche com olhos opacos e boca cheia de naftalina? Há uma linha de fuga inscrita no epitélio do pesar – carrossel sem crianças, sozinho, a rodar.

terça-feira, abril 12, 2005

Preso na tormenta do azul, o silêncio aprofunda a perda – quarto mofado, as sobras do teu horizonte descamando ao luar. Há um leve amargor engasgado nas palavras desse adeus. Um respingo de felicidade mancha o destino de um só – o azul atormenta quando há silêncio corroendo as paredes do coração [paisagem baldia, amor adoecido, beleza agonizante, mãos envelhecidas agarrando promessas]

segunda-feira, abril 11, 2005

Quatro madrugadas sem conseguir escrever – a dor parece estancada [meus sentidos estão amarelecidos] Busco imagens recorrentes – tenho um baú escondido sob a pele [preciso sobreviver em silêncio e desapercebido] Incinero memórias – a fumaça sobe sem rumo e me faz tossir toda esperança [incomoda saber a vermelhidão das tardes que sobrevivem] Escolho o tempo exato – despedaço as sobras da alma [camufladas, as derrotas apodrecem numa lentidão exemplar]

terça-feira, abril 05, 2005

Respirava vida sempre que as mãos arrancavam das páginas, poesia – assim, a solidão ficava menos doída. Acompanhava com os olhos cada movimento das pessoas lá fora – todas, sempre acompanhadas de objetos [carros, livros, liquidificadores e sonhos] A pele caída sob o queixo, os tufos de pêlos no ouvido, a calvície desesperadora – em certos momentos, desistir soava a coisa mais sensata a ser feita. Foi absorvido pela eletricidade gestada no centro da tempestade, que descobri – sobrevive num mínimo espaço dentro do peito, o menino que desenha esperança e rouba a eternidade da dor.

segunda-feira, abril 04, 2005

A cor do vazio. Precisava de uma resposta imediata – a noite escrevia cartas sem endereço e as estrelas pareciam desavisadas. Azul, pensou – mas azul é por demais incompleto [faltaria algo, alguma coisa com gosto de perda] Seria cinza, não fosse pelas sobras dos amores que nas retinas cristalizaram. Branco! Bem perto seria branco – porém, o vazio precisa de distância pra ser intransponível. Carmesim. Ocre – cores estranhas demais pra serem vazias. Roxo, roxo é a cor do abandono, e abandono nada tem de vazio. Verde, verde é cor que cicatriza – não tenho notícia de vazio cicatrizado. Será preciso saber uma cor muda. Amarga. Inquieta. Etérea. Uma cor capaz de sangrar. Uma cor fudida. Uma cor que arraste a dor de todo instante – que adormeça teus olhos castanhos bem longe de mim.

sexta-feira, abril 01, 2005

A cor do vazio. Precisava de uma resposta imediata – a noite escrevia cartas sem endereço e as estrelas pareciam desavisadas. Azul, pensou – mas azul é por demais incompleto [faltaria algo, alguma coisa com gosto de perda] Seria cinza, não fosse pelas sobras dos amores que nas retinas cristalizaram. Branco! Bem perto seria branco – porém, o vazio precisa de distância pra ser intransponível. Carmesim. Ocre – cores estranhas demais pra serem vazias. Roxo, roxo é a cor do abandono, e abandono nada tem de vazio. Verde, verde é cor que cicatriza – não tenho notícia de vazio cicatrizado. Será preciso saber uma cor muda. Amarga. Inquieta. Etérea. Uma cor capaz de sangrar. Uma cor fudida. Uma cor que arraste a dor de todo instante – que adormeça teus olhos castanhos bem longe de mim.
Irrompe o teu sorriso, um salto improvisado em pleno ar. Sabes as delícias de ser etérea e os deleites da carne feita poesia. És quem dança. És quem sonha. És quem invade meus segredos solitários e esperançosos. Respira o que respiro, eu preciso. Acolhe o que me falta, eu celebro. Rascunha sobre meu corpo um devir feito de nanquim – não peço margens ou fronteiras, quero contigo ir sempre além. Dá-me teu sorriso de manhãs azuladas e de chuvas que trazem a tarde – feito noites onde estrelas cadentes encontram enfim o luar.