quarta-feira, maio 18, 2005

Creio nas manhãs quando meu corpo adoece – o toque do orvalho sobre a pele ganha em cores e sombreamento [desfaz a plenitude da razão sempre que relâmpagos brotam dos teus dedos anunciando chuva] Creio nas manhãs quando acordo sozinho – os travesseiros espalhados pela cama espaçosa demais hiperdimensionam a solidão [delimitam a agonia de estar impotente diante de imagens desgastadas pelo tempo] Creio nas manhãs quando o mais sensato é desistir de tudo e aprender a sorrir.

sexta-feira, maio 13, 2005

Acreditei na textura do nanquim – no sol, nos jardins, na dor diluída entre as cores pintadas nas telas do meu sonho. Por todas as manhãs fui devorado – minha carne guardando memórias, minhas vértebras estalando segredos. Chuva. Chuva levada embora pelas margens estreitas do rio.

quarta-feira, maio 11, 2005

Os sonhos que sonhas, os conheço – das minhas mãos subtraio as linhas do tempo. Os sons que te despertam, eu os tenho – meus olhos guardam horizontes e papoulas, são fragmentos ainda não manchados. Os passos da tua decadência, por todos já tropecei - as madrugadas são finitas [precisamos devorá-las] ficar juntos mais uma vez, antes que cheguem as luzes, trazendo consigo os girassóis.

terça-feira, maio 10, 2005

Sozinhos estamos, mas o maldito silêncio conosco – a resistência dos corpos declina, o peso das palavras comprime o peito, a exigüidade do tempo desespera os amantes, e essa chuva que não chega...essa chuva que não chega...essa chuva... [A mortalha é azul – outro azul, não o da solidão]
Só queria a calma de uma tarde fria, vazia – sem dor, sem medo, sem sufoco, sem as marcas da perda afloradas na alma. [Cacos de sonhos. Esperança solúvel. Um par de corpos perdidos em memórias.]

quarta-feira, maio 04, 2005

Frio. Minhas entranhas vão sendo invadidas por dedos magricelos e envelhecidos. Das paredes, caem retratos esquecidos, atados ao tempo por intervalos anêmicos – os ossos guardam segredos, a alma estabelece limites, a dor estanca horizontes, o azul ecoa a perda [tudo que não está presente e se recusa a partir]. No ciclo marcado pelo soluçar com cheiro de quarto vazio, estão as memórias enfileiradas e postas sobre a mesa de jantar – não há talheres nesse banquete feito para um homem só, nem sobras ou esperança capazes de nutrir o amanhecer que decai envolvido por uma calma secular

terça-feira, maio 03, 2005

Devolve-me as lágrimas. Preciso da dor. Do peso. Do azul que silencia a solidão – os olhos estacionados num ponto mínimo qualquer. Dá-me a frieza dos cômodos vazios. O sufoco esmiuçando as feridas da alma – nos músculos, na pele, a meticulosidade do tempo tecendo desespero. [A felicidade é um estado insuportável.]