sábado, julho 30, 2005


Dói. Destrói. Amputa. Desesperança o horizonte. Estrangula a canção antes que a alma possa saber. O inferno, a derrota, a inquietude de ser um bosta entre todos os demais. Esmigalha o coração feito hóstia nas mãos de um padre manchado de culpa. Revira o que possui feito maltrapilho fudido e morto de abandono a fartar-se de lixo [míseros vestígios desse amor cianótico] Há uma rua estreita em algum lugar da memória – o cheiro da chuva colorirá a dor que fica. Há um terno de estrelas morrendo no ontem por vir – serão cadentes, é preciso alimentar os sonhos até lá. Apaga teus olhos dos meus. Retira teus pulsos das minhas veias. Desfaz as linhas que nas minhas mãos você semeou. Somos cicatrizes umedecias. As palavras que me tomam não andam nas tuas ruas – as tempestades que me lavam feito anjo cego nunca te alcançarão. Já é tarde demais, nosso passado tornou-se maior que o futuro. Quando respiramos, num único suspiro foge-nos o ar.

quinta-feira, julho 28, 2005


Debruça-te sobre as palavras, sente. As paredes estão cegas, um espaço restrito à agonia e ao pesar. Esmiúça o olhar dos outros, seus sonhos estão recolhidos – são restos do que um dia amanhecera azul. No canto da sala, soluços e orações balbuciadas sabe-se lá se com fé ou medo do que não sabem[exatamente o quê nos espera do lado de lá?] Escuta. Existem ruídos vindo dos ossos, as articulações acusam a idade – só as almas estão sólidas, incompreendidas que são. Há flores com cheiro de vazio. Há um peso insustentável turvando as lembranças. Imóvel para todo o sempre, sela com um beijo tudo aquilo que vai ficar – vê-la pela última vez na irredutibilidade das retinas é saber que não nos pertence a eternidade. [Só os anjos sabem mentir] Guarda contigo esse último instante e deixa-te encravado nas entranhas da terra - mais lúcido que as auroras de amanhã, mais descrente que um espantalho arrancado da plantação. .

quarta-feira, julho 27, 2005


As fotos não revelam o que ficou- é a fuga das cores numa dança solitária. O olho sequer percebe quando as sombras mudam a forma - os limites que engolem a luz. Invadidos, os sentidos recortam uma porta no meio da parede – e, como num desenho animado, tudo passa a ser o que virá.

terça-feira, julho 26, 2005

Morre! Que em mim não pode haver esperança. Cala! Que em mim amanhecem ouvidos de chuva e eu não sei como desaguar. Onde quer que eu me reconheça, apaga tuas marcas de mim – eu não tenho mais gavetas pra esvaziar memórias [a incoerência dos girassóis como companhia]

quinta-feira, julho 21, 2005


Vida, a interrupção do azul – anguloso deslize inundando as veias [um rasgo na colcha- de- retalhos que de noite sinaliza teu canto seguro] Medo arranhando os olhos. Murmúrios insistindo na esperança. Um velho quadro, numa velha parede e a pertinência de estar isolado dentro da própria carne, nua carne – fosse deus e celebrava beleza e gozo. Fosse deus e anunciava fracasso e dor. O silêncio, invade-me o silêncio com seus dedos de incômodo peso. A quietude é quase um sonho – em pedaços, escapa-me lentamente.

quarta-feira, julho 20, 2005


As louças recém lavadas. As quinquilharias que compramos sem saber onde colocar. Os quadros e as canções que nos delineavam em nossa ausência – tudo quieto, sem um movimento qualquer. Os sapatos nos olham pedindo tropeços, atropelos, bares, fumaça e álcool [mas, estacionamos] Nossos ossos rangem como camas velhas e desusadas. A apatia escava nossa essência devorando-nos a medula. Escapamos da vida quando abraçamos a tranqüilidade – dias certos, horas precisas, sentimentos empacotados feito maçãs importadas vestidas num azul tosco e barato. Quando chove, nos abrigamos no quarto. Ontem, brincaríamos de eternidade.

segunda-feira, julho 18, 2005

Diante do marasmo, antevejo meus dias idos - o calor dissipando-se pelas frestas que de meus livros empoeirados ressurgem [anoto um endereço qualquer. Serei destinatário de mim mesmo nesta indelicada celebração às avessas] Meus sapatos estão sujos de receio e finitude. Da minha boca escapam orações carcomidas pelo desprezo – malditas! nelas um dia acreditei. [O céu permite devaneios e quedas] O silêncio da lua ressoa nas vértebras. A ausência de ti escalona a solitude. Uma a uma e desordenadamente, estrelas cadentes, mariposas, visagens e cantigas perdem a gravidade...ficam expostas feito mendigos imundos de futuro e cães morrendo de frio.

sexta-feira, julho 15, 2005


Liquefaço-me [se a fluidez do rio me é impossível, sigo na minha reticência de homem só] Eu trago nas margens os horizontes que em ti escondias. O lodo dos meus pequenos devaneios, a cartilagem da lucidez. Atravesso meus dias conversando baixinho com o resto de luz que a tua partida congelou como se fosse aurora sufocada entre os girassóis. Eu não saberia devorar o abismo dos teus olhos. Eu não suportaria a leveza da tua indiferença. Na contramão do destino, fosse eu poeta e escreveria um fim que não empalidecesse jamais. Escaparia de te perder pra mudez do frio. O mínimo espaçamento entre desistir e seguir derrotado. Diante das imagens soltas que não consigo colar, que faço eu do teu ressoar vazio no centro de doces memórias?

domingo, julho 10, 2005


Quis escrever poesia, e vieram imagens. Quis alcançar sons, e resvalou delírios. Sentiu a presença de quem nunca havia esquecido, mesmo estando tão distante[como se nada mais importasse que não estar ali, sentindo] As fotos revelaram um misto de infância e futuro bretoniano – as cores projetavam-se sobre suas pupilas, desenhando bizarrices e leveza[tão leve que o céu era pouco] Encantado, foi num sorriso que descobriu – A menina linda engoliu o sol!!

sábado, julho 09, 2005

Superficialidade sob a forma de palavras recorrentes, num ir e vir previsível [Auroras e girassóis. Dor e lamentos. Quartos vazios e desesperança. Azul e solidão] Se traço meu horizonte encorpando rascunhos é porque me falta a precisão dos desalmados. A mim não coube a lucidez dos portos desabitados, nem a esplendorosa fragilidade do canto das cigarras. Quando as estrelas rasgam a noite em dois, lembro das sombras que desenhavam bichinhos na parede da minha infância – eu não sei mais como ser assim, simples. Estou diante do medo que me paralisa [esqueci as preces antes mesmo de aprende-las] Na sarjeta dos meus vícios, escrevo teu nome pra batizar minha alma insone e embriagada – num compasso esquizóide reinvento as profecias dum anjo louco qualquer.
Preciso de imagens que me sejam novas. Nada de silêncio ou madrugadas, quartos vazios, dor, demência e correção. Já não me nutre o azul das manhãs de domingo, tampouco o medo da vida estampado nos jornais. O amor comeu minha identidade. Vomitou minhas esperanças. Travou minhas palavras. O amor roubou a solidão de mim mesmo. Fez-me poesia sem margem. O amor inundou minhas entranhas e partiu antes que fosse possível desamar.

sábado, julho 02, 2005

Desperdício sob a forma de palavras recorrentes, num ir e vir previsível [Auroras e girassóis. Dor e lamentos. Quartos vazios e desesperança. Azul e solidão] Se traço meu horizonte encorpando rascunhos, é porque me falta a precisão dos desalmados. A mim não coube a lucidez dos portos desabitados, nem a esplendorosa fragilidade do canto das cigarras. Quando as estrelas rasgam a noite em dois, lembro das sombras que desenhavam bichinhos na parede da minha infância – eu não sei mais como ser assim, simples. Estou diante do medo que me paralisa [esqueci as preces antes mesmo de aprende-las] Na sarjeta dos meus vícios, escrevo teu nome pra batizar minha alma insone e embriagada – num compasso esquizóide reinvento as profecias dum anjo louco qualquer.