terça-feira, junho 27, 2006



PRELÚDIO
I
o inverno que nos afasta
devorado será
por todas as primaveras
que virão
nos olhos da dor
gotejar girassóis

II

a menina que eu amo
guarda andorinhas
caracóis
& ventania
O SEGREDO DAS AURORAS

III

ciclo: pés descalços
teus cabelos gosto de pássaro voando

▒▌

meus dedos são cores cantando cigarras
.
.
.

IV

credo: chuva miúda
teus olhos de jabuticaba


dá-me teus medos
dar-te-ei meu sonhar

terça-feira, junho 20, 2006


o chão de tacos corridos
era memória inventada
como era faz-de-conta
a joaninha germinando primavera
à sombra da acácia
que trouxe a minha mãe de volta
para embalar-me canções de ninar
porque deus às minhas preces
finalmente ouvira
e carregara a morte pro lado de lá

sexta-feira, junho 16, 2006

Penso que meus blogs andam confundindo suas identidades[o preces ribeirinhas encorpa o memórias baldias, que por sua vez, é enchimento qual o eu,espantalho, que resiste ao peso acinzentado do amores fúnebres] Aqui, no vomitando imagens, marco o encontro de todos, o que pode levar ao abandono de tudo, ou ao silêncio que me alimenta os músculos. Não sei muito bem o que dizer. Tenho um turbilhão de sentimentos esmurando meus olhos:
[AS PALAVRAS ULTRAPASSAM O LIMITE DA PELE, A FOME VEM E ATINGE MEUS OSSOS; A DESCRENÇA PARASITA O MEU DESATINO]
Nesses instantes que me fazem distante da primavera, eu mergulho em mim mesmo e descubro que raros sentimentos importam. Pessoas também. Raras pessoas a mim importam. Destas, algumas já não podem mais escutar minhas preces e cheirar meu sorriso de chuva.
Sim, eu sou um homem solitário. Acho que você sempre soube. Não?
Sim, eu tenho medo do isolamento - as paredes do meu quarto não escondem segredos - simplesmente, os ignoram. E assim o fazem com sonhos e girassóis. E você, onde está você que não vem amanhecê-los?Onde você está? Você pode me escutar? Você pode sentir o que eu sinto? Você desceria ao inferno comigo?[a candura do céu cabe sob medida àqueles que sonham sem dor]
Eu sou um homem feito de palha! Eu preciso ser um homem feito de palha!
Tenho as madrugadas comigo mas não sei escrevê-las [eu esboço memórias e destinos para acalentar a miséria do instante] MEUS INSTANTES SÃO MISERÁVEIS longe de ti.
Invadem-me a privacidade e jogam falácias na minha cara. Pai, perdão?
Invadem-me a alma e enraizam sombras nos meus dias de sol. Pai, perdão!
Invadem-me a sanidade e dizem aos ventos que eu já não oro mais. Mãe, escuta?
Invadem-me o amor e dizem que eu sou o mal que te assola. Mãe, escuta!
Meus precipícios chegam ao fim e eu não tenho lugar algum para alcançar.
Meus sonhos, os guardei de volta. Agora, longe de mim, longe de ti, longe das manhãs bretonianas, enterrados num lugar que jamais outro alguém irá alcançar[meu império ruidoso; minha rota de fuga; meu destino escrito em giz]
Hoje, sei os que me importam. Os que amo. Aos que aqui não mais estão, são minhas as memórias a avivá-los. Aos que ainda posso tocar, meu calor entrego. E a você, o que coube?
O melhor que há em mim. O pior que me escapa. A imprecisão das minhas virtudes e a absoluta convicção dos meus erros, todos.
VOCÊ QUE ME FAZ CRER QUE A VIDA VALE A PENA. Você me faz crer nessa coisa esquisita que chamamos amor. E é amor isso tudo. Escutaram? Amor!
Não, eles não escutam. Não, eles não permitem. Não, eles só julgam e rotulam e explicam e receitam[há fórmulas de felicidade, mas pra cada fórmula feliz há um prazo de validade]
Ah, como poderiam saber de nós, se nos atam as palavras, se nos podam os gestos e nos mumificam os horizontes?
Hoje, ruminando outra madrugada insone, eu sei que o mundo inteiro é pouco pra me calar. Mas é aterrador saber que sem ti não há o que falar...

segunda-feira, junho 12, 2006


escreve um adeus que seja um adeus-círculo
um adeus-azul
um adeus-poesia

escreve um adeus sem dor e sem distância
um adeus que nos faça ausentes da perda
livres da amargura e do pesar

[esse pesar desalmado que toma posse da gente
quando não temos mais o entricheiramento do quarto para nos abrigar]

escreve um adeus-mentira
um adeus-silêncio
um adeus que nos dê colo
feito álbum de fotografias posto sobre a mesa da sala vazia

escreve um adeus que não saiba durar
escreve um adeus com letras de giz
um adeus invertebrado e inconsistente
um adeus-mentira que seja possível de apagar

domingo, junho 04, 2006


o sol poente
sujou as mãos do menino
que enfurecido
pintou andorinhas e estrelas cadentes
mergulhou-as no mar

assolado pela profundidade do azul
descobriu não possuir mais nada dentro do peito
– os sonhos tinham esvaziado feito balão perdido
numa praça em pleno domingo –

[a precisão fiel da dor chegara]

silenciou
e atento lambeu o luar
que nem bem despertara
– nas margens vorazes do tempo
desdisse os selos do destino –

um após o outro
guardou os vestígios
do que outrora fora solidão
[transformando orações em sons amargurados]

isolado e lúcido
das memórias roubou segredos
respirou fundo
descreu do amanhã
e nunca mais deixou de voar