quinta-feira, julho 28, 2005


Debruça-te sobre as palavras, sente. As paredes estão cegas, um espaço restrito à agonia e ao pesar. Esmiúça o olhar dos outros, seus sonhos estão recolhidos – são restos do que um dia amanhecera azul. No canto da sala, soluços e orações balbuciadas sabe-se lá se com fé ou medo do que não sabem[exatamente o quê nos espera do lado de lá?] Escuta. Existem ruídos vindo dos ossos, as articulações acusam a idade – só as almas estão sólidas, incompreendidas que são. Há flores com cheiro de vazio. Há um peso insustentável turvando as lembranças. Imóvel para todo o sempre, sela com um beijo tudo aquilo que vai ficar – vê-la pela última vez na irredutibilidade das retinas é saber que não nos pertence a eternidade. [Só os anjos sabem mentir] Guarda contigo esse último instante e deixa-te encravado nas entranhas da terra - mais lúcido que as auroras de amanhã, mais descrente que um espantalho arrancado da plantação. .

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