segunda-feira, fevereiro 03, 2014


aquieta-me 
aquilo que não sei
avançando sobre o medo
desterrando a inocência
sacrifico a beleza ao tempo 
e murmuro meus cadáveres 
aos que me habitam

sábado, outubro 05, 2013


esse homem que dá vida a mim
escapou-me entre os dedos
e remendou outro amanhã

(a arritmia do sonho pode ser um abismo morno)

quarta-feira, agosto 21, 2013


retorno ao silêncio.
já não são mais teus olhos
que vêm me acalmar

quinta-feira, março 21, 2013


ao rubens da cunha

deste sangue que me habita
o homem que não fui é vestígio e escape
porque há muito comungo a danação dos incontidos
[eles são-me deus]

então escuta, amigo

a morte é o aporte que me afunda.
minha virtudes, um amanhã feito de ossos.

sexta-feira, fevereiro 01, 2013



alinhado ao horizonte
envelheço o poente
frágil traço que me resta
(somos dois, somos nada, somos muitos, somos nenhum)

quarta-feira, maio 16, 2012



esse deus que não existe em mim
criou-se ao meu avesso
inervado a sussurros e lamentos
desconhecendo a ternura
e temendo a solidão

esse deus que não existe em mim
pariu-se mentiras e louvor
lambuzado de fome e de ódio
atado ao rancor
pífio mesquinho vão

domingo, fevereiro 12, 2012


ao CC

I
o poeta
feito de pausa e silêncio
sobrevive de cores
ossificadas

II
estático
as devora repetidas vezes
até descobrir-se
envelhecido  

III
volta ao início de tudo
e acuado
de lá não sai
até que lhe ocupem novas paisagens

quarta-feira, dezembro 28, 2011






desertor

fiz nossos sonhos

lugar para não mais voltar

quarta-feira, dezembro 07, 2011



trago o fogo dessa terra aniquilada

a raiz

consumida pela vastidão do deserto

em flor

domingo, novembro 27, 2011


I
em minhas veias
habito-me lamentos
abandono
e imensidão
            
[breviário]




II
sou da morte dos meus
ato-reflexo
a pairar
menor que o silêncio  

>>túmulo aberto>>exatidão

quarta-feira, outubro 19, 2011



monotipia de milton josé de almeida


ao amigo e professor Milton José de Almeida
(in memoriam)

eis que chega a morte, amigo
e eu nem pude dizer adeus
ou saber quais as quimeras
que levaste contigo
ventre de mundos outros que eras

eis que nos afaga a morte, amigo
sabedora dos nossos medos e agonias
tão indócil, arredia e desapegada
porque guardadora de memórias
porque permanência e não despedida

eis que nos revela a morte, amigo
frágeis
solitários
filhos desnudos
de deus algum


a morte não nos pertence, amigo

sexta-feira, outubro 07, 2011

I
meus demônios tem medo
vasculham-me as madrugadas
sempre aos pares, cuidadosamente

[indefesos]
roubam meu sono
[incompreendidos]
agarram-se ao fio de esperança que resiste em mim

II
esses demônios, medrosos
sobrevivem ao tempo que me curva as costas
e porque eternos
não desabrigam meu peito

quinta-feira, setembro 08, 2011

antes carne
fiz-me verbo
sentença de deus algum
[grito oco nas ranhuras do medo]
.

quinta-feira, agosto 25, 2011




o medo confidencia
aquilo que me espreita
[traços de deus]

quinta-feira, agosto 11, 2011

o silêncio respinga
palavras desertas
[ecos do homem que sou]

sexta-feira, julho 22, 2011

povoa teus pássaros em desabrigo
a eles, o desígnio das folhas
que diante do outono
uma após a outra
amortalham-se chão

quinta-feira, junho 16, 2011



a memória
vínculo com o sagrado
rompe-se
sob o revoar de pássaros noturnos
combalidos
rumando ao inverno




quinta-feira, maio 05, 2011


vermelho,o sol derrama-se
pai, mãe, onde repousá-los-ei?

cheguei até aqui
mas não escuto a primavera

[arde em minhas perdas a imensidão da morte]

segunda-feira, abril 25, 2011


tenho rios enfurecidos
sob pálpebras que escapam aos sonhos

tenho pássaros assentados
a desmemórias famintas de sol

sobrevivo,
costurado ao tempo
que me rumina os ossos

sexta-feira, abril 08, 2011


confuso,
guarda pequenas lembranças
peças frágeis
fotos
particularidades de um tempo
amontoado sobre a pele
das mãos do rosto dos cotovelos
a envelhecer
sob a premissa de que todo infortúnio será
recompensado