sábado, julho 21, 2018




naufragar de ti
todas as memórias
paisagens
coisas afins


afundar sem ti
toda a dor
sofreguidão
perdas sem fim


[até o fim]

terça-feira, junho 26, 2018



o cheiro do teu sorriso e do meu, amontoado
em um quarto vazio de quem somos
ocupa vagarosamente
o homem que se amálgama às sobras mim

[ajoelho, mas o silencio não sabe curar o fantasma que atende pelo meu nome]

quinta-feira, novembro 30, 2017



















o amor partiu

despedaçados, seguimos

colados à lonjura

rarefeita de nós

[desse pouco que resta em nós] 

segunda-feira, novembro 13, 2017


porque não havia lugares antes habitados


ou por desabitar


éramos quem sempre fomos

[mas estrangulados de nós dois]


restava-nos alimentar memórias descalcificadas


a caírem uma após a outra de nossas trêmulas mãos


sem forças para semear a terra


ou acenar adeus


[migalhas, eis o que são]

domingo, abril 30, 2017

não lembro do seu último sorriso

tens olhos vagos

tuas mãos perderam a força

teus pés não sabem mais como andar


[sol a sol, o cheiro de fezes e urina confunde-se às memórias que guardarei do senhor]


sofro em silêncio com medo e só

e não sei se amarguro todo destino

ou ante deus enfim ajoelho

para saber-te descansar em paz


terça-feira, fevereiro 28, 2017

onde repousas

se o céu ficou preso aos pesadelos de infância

e sob meus pés encontro apenas

silêncio ruína e dor

as estações transfiguradas em lugar algum

tenho medo do adeus que não pude dizer-te

tenho medo daquilo que não sei

tenho medo

e sem tuas mãos por velar meu partir

sob as pálpebras repousará  sequer um sonho

que não o do menino aninhado em teu colo

escutando antigas canções de ninar 

sexta-feira, janeiro 20, 2017

vivo em pecado

naquilo que não estás


porque nua, porque puta


porque amiga


porque irmã


terça-feira, janeiro 17, 2017

esqueces meu nome meu rosto teus amanhãs

já não sabes de nós, preso ao que resta de cada poente


[vês uma foto. me carregavas no colo. o que dizem teus olhos?]


envelheces e é só teu o silêncio


que nos traz de volta a esse lugar.

segunda-feira, novembro 30, 2015




do alvorecer retorno

agora sabedor dos tempos idos

não mais o silêncio d’outrora



sou homem menos que sombras

sou vestígio menos que arremedo

sou horizonte menos que precipício  

sexta-feira, novembro 20, 2015

ao vitor ângelo,
in memoriam


há memórias, amigo
mas elas escapam entre meus dedos
como se não houvesse mais destino,
frágeis linhas a seguir


sinto a ausência de ti, amigo
e já não me bastam paisagens amarelecidas
porque hoje o fio do tempo ecoa vazio
lembrando teu sorriso, não mais

segunda-feira, junho 29, 2015




em minhas órbitas, um resto de medo 
enervado feito pássaro
esgueira-se do amanhecer


em silêncio, o ajuste das formas 
a limpidez das cores nulas
abreviam-me a lucidez 

[enfermo, sou eu o homem que sorri]



  

domingo, junho 07, 2015


abandona hábitos
[e declina]
sobre a imagem da mãe, ainda jovem
extirpa o silêncio

[deus e a misericórdia dos tempos idos

afeiçoam-lhe mais que assombram]

arremedo ou síncope
é de si 
o único lugar que resta
nesse longo caminho de volta

sábado, maio 02, 2015



protege, mãezinha
desse medo sem nome
desse homem que não fui
desse deus que não me houve
desse ontem que não veio

protege, mãezinha

dessa minha imensidão

sexta-feira, maio 09, 2014


já não existe dor.
repasso minhas certezas
e averiguo cada um de mim
que somos o mesmo homem incolor
vagando à mingua
feito sombra acuada por um resto de sol

segunda-feira, fevereiro 03, 2014


aquieta-me 
aquilo que não sei
avançando sobre o medo
desterrando a inocência
sacrifico a beleza ao tempo 
e murmuro meus cadáveres 
aos que me habitam

sábado, outubro 05, 2013


esse homem que dá vida a mim
escapou-me entre os dedos
e remendou outro amanhã

(a arritmia do sonho pode ser um abismo morno)

quarta-feira, agosto 21, 2013


retorno ao silêncio.
já não são mais teus olhos
que vêm me acalmar

quinta-feira, março 21, 2013


ao rubens da cunha

deste sangue que me habita
o homem que não fui é vestígio e escape
porque há muito comungo a danação dos incontidos
[eles são-me deus]

então escuta, amigo

a morte é o aporte que me afunda.
minha virtudes, um amanhã feito de ossos.

sexta-feira, fevereiro 01, 2013



alinhado ao horizonte
envelheço o poente
frágil traço que me resta
(somos dois, somos nada, somos muitos, somos nenhum)

quarta-feira, maio 16, 2012



esse deus que não existe em mim
criou-se ao meu avesso
inervado a sussurros e lamentos
desconhecendo a ternura
e temendo a solidão

esse deus que não existe em mim
pariu-se mentiras e louvor
lambuzado de fome e de ódio
atado ao rancor
pífio mesquinho vão