
eu preciso de um tempo
eu preciso aprender a fingir
que a vida é exatamente isso tudo
que eles dizem que é
eu preciso mentir
e enganar o que sinto
eu preciso do silêncio das ruas desertas
eu preciso da mudez dos corações desamados
eu preciso dos sorrisos fáceis
e da falsa felicicidade das manhãs sem girassóis
eu preciso encontrar um caminho bem longe daqui
eu preciso enterrar minhas memórias
e descrer na felicidade
porque é assim que funciona
porque é assim que ouvi dizer
porque é assim que está ecrito
num livro que me recuso a ler
e que todas as madrugadas que contigo viverei
e que todos os caminhos que contigo andarei
e que todos os sonhos que contigo singrarei
fiquem longe de mim
fiquem longe daqui
porque eu não suporto tanta perda
porque eu desaprendi a chorar
porque eu desaprendi a esconder o que sinto
porque eu te amo
porque eu te amo
porque eu decreto aqui
que o espantalho
agora tem músculos que nada pulsam
e olhos que nada vêem
e mãos que nada tocam
e um sorriso estranho
que a tudo espanta
menos o vazio
e a tristeza imensa
desse amor
que disseram morrer
e olhos que nada vêem
e mãos que nada tocam
e um sorriso estranho
que a tudo espanta
menos o vazio
e a tristeza imensa
desse amor
que disseram morrer
e que comigo levarei
nem que seja sozinho
na desfronteira da vida
no lugar exato
onde habita a dor.
*
aos que aqui aparecem
aos que aqui vomitam
calarei por um tempo
é preciso
eu preciso.
vez por outra estarei no amores fúnebres
ou no eu, espantalho...