segunda-feira, dezembro 27, 2004

O calor sepultara dezembro. Quantas vezes mais meus dedos sangrarão essas teclas na tentativa de cristalizar as amarguras que pela cidade deserta esperam uma dádiva cristã? Débeis até a medula! A miséria visitada...Os segredos rastejantes...O coração encenado a cada segundo sem fim...As promessas mofadas no canto da boca...O céu azul apontado ao destino feito pálida bandeira de país algum... A sanidade escorrendo pelos olhos castanhos. Amor.

sábado, dezembro 25, 2004

Percorro o medo e a esperança.
[ Na ponta dos dedos, o frio daquilo que abandonei.]
Minhas certezas estão sobre a mesa, embrulhadas em papel crepom. Há formigas carregando o silêncio – a precisão de cada passo rumo a lugar nenhum.
As roupas, alinhadas, ainda esperam por ti – não sabem da tua perda – incrédulas, estão postas pra me assombrar.
Longe, cruza o céu um ponto infinito. As estrelas cadentes trazem promessas que o desalento logo devora. É a solidão cobrando seu preço.
Quando a dor deveria te invadir, mas não invade. A perda fica calada. As lágrimas. O rosto. As mãos. Tudo em silêncio, profundo silêncio. Escondidas, as auroras parecem definhar...os passos largos do tempo escrevendo suas marcas. Do alto, tudo parece vertigem. Quando tocas o chão, o que te falta, embrutece. Acolhe teus medos! [ A eternidade perece. As certezas são devoradas num único lampejo. ] Ali, no frio, não há mais sopro de nada. Repousa as moedas de prata sobre os olhos. Aproxima-te pela última vez. Guarda o cheiro, as imagens, a textura. Envolve num único abraço a quem tanto amas. Toda a ausência que te cresce por dentro. O que acabou. A última impressão que a tua íris sonha jamais apagar.

quinta-feira, dezembro 16, 2004

INCOMPLETUDE- Palavras à flor da pele, guardando conosco o silêncio que nos revela e muitas vezes nos faz distantes de tudo. Ah!, danem-se todos os que vivem a esperar de nós aquilo que nem sabem o quê. As pessoas são pequenas em seus planos e sonhos pré-pagos. As pessoas são opacas em seus mundos de verdades e virtudes descartáveis. Não quero nada além do frio e da quietude. Não quero nada que não me faça insone e angustiado. Nada além do que me assole a alma pagã. Não quero ausência. Não quero clemência. Perdão, não. Tardes poentes com gosto de chuva e arco-íris, não. Nem o amargo fruir das auroras. Ouço o que resvala mas memórias. As reminiscências feitas de cheiros e texturas. O vazio aberto no meio do peito. Tudo o que cresce quieto. Coisas que cabem numa caixinha de fósforo.

quarta-feira, dezembro 01, 2004

Vomita a madrugada e teus sonhos febris. Estampa em cores vívidas a inércia que te assola. Escreve em sangue teus medos mais profundos. Guarda em segredo teus desejos mais profanos. Dê-se por satisfeito em estar distante da benção divina. Aponte o dedo na cara do destino. Desenhe um sol manchado de carmesim. O Rei Lagarto rasteja toda aurora. Dentro do peito, acalenta o que te foge. Aquilo que te faz descrer. A epiderme das tuas virtudes.
Tarde e muito calor em Belém. Ouvindo boogie woogie. Piano martelando até sangrar os dedos. O calor aumenta...
Belém guarda um certo ar solitário ao poente...
Lembro do que escrevi ontem...

Vomita a madrugada e teus sonhos febris. Estampa em cores vívidas a inércia que te assola. Escreve em sangue teus medos mais profundos. Guarda em segredo teus desejos mais profanos. Dê-se por satisfeito em estar distante da benção divina. Aponte o dedo na cara do destino. Desenhe um sol manchado de carmesim. O Rei Lagarto rasteja toda aurora. Dentro do peito, acalenta o que te foge. Aquilo que te faz descrer. A epiderme das tuas virtudes.