segunda-feira, maio 22, 2006



PERDÃO
[O ESPANTALHO SANGRA]

pai, perdão
sou um homem silente
que ainda reza todas as noites
e crê em anjos- da- guarda

pai, perdão
permita que eu creia
permita que eu fale
permita que eu de ti me aproxime

pai, perdão
um dia todos erramos
um dia todos tropeçamos
um dia todos fracassamos

pai, perdão
mesmo que o erro tenha sido mentir
mesmo que o erro tenha sido temer
mesmo que o erro tenha sido sonhar

perdoa, pai

[ainda hoje nos imaginei a conversar
e você era mais alto do que eu pensava;
você falava as palavras que eu falaria, verdades;
você olhava fixo aos meus olhos, silêncio;
você alcançava as minhas estrelas cadentes, permissão;
você apontava minhas MENTIRAS e as jogava no meu ROSTO;
você desossava as minhas FRAQUEZAS e as lançava ao VENTO;
você investigava minhas VIRTUDES e de todas DESACREDITAVA;
você me APEQUENAVA e mesmo assim eu NÃO desistia]


pai, perdão
porque no meu coração-espantalho
onde jazia numa sala esquecida na memória
hoje sorriem auroras bretonianas
germinadas pela menina que eu amo


pai, perdão
dá-me tua benção
dá-me tua permissão
é só o que peço

confia em mim, pai
porque eu jamais a deixarei só
porque eu jamais a farei sofrer
porque eu jamais direi adeus

acredita em nós dois, pai
e todas as nossas primaveras
e todas as nossas manhãs
serão de girassóis.

pai, perdão.

12 comentários:

Claudio Eugenio Luz disse...

é impressionante como consegue lidar com uma temática tão dificil de forma tão sutil.Parabéns.

hábraços

Anônimo disse...

Oremos
que ainda há deus escondido nas sombras
de olhos tristes
de olhos cansados
de ver

Veja você,
mesmo estes olhos,
com um pouco de esperança,
ainda souberam ver amor
e se iluminaram

Anônimo disse...

, em manhãs de girassóis, sonhar não é erro...
|abraços meus|

Edilson Pantoja disse...

bonito!
Abraços!

isa xana disse...

estás perdoado, meu filho... assim seria a reposta do pai

*

Anônimo disse...

...e uma lágrima rolou de mansinho pela minha face enquanto "ouvia"...
Só você poeta amigo, para um grito dessa forma.
Haverão as manhãs em que o sol sorrirá, o espantalho não sangrará mais no seu coração e amanhecerão girassóis!
Um abraço bem apertado.

Anônimo disse...

tua habilidade ímpar no trato com as palavras é algo impactante, Douglas. Preciso como um entalhe, na cruz de cada um.

sds

Anônimo disse...

Voce consegue orar em versos e então a oração fica mais bonita.

Orar não tem nada de errado. Só mostra que:
- somos ingênuos, apesar da boca suja.
- somos limpos, apesar do fedor no meio das pernas
- somos sãos, apesar da coragem de escrever o que se sente
- somos lindos, apesar do excesso de peso.

Mas da maneira dorida que escreve, orar pareceu um lamento. Por isso te reprovo. Não lamentes, eu te amo

Fragmentos Betty Martins disse...

Olá Douglas

Que "Oração"!!!

Nada tenho a acrescentar - O belo respira...

Beijinhos

Anônimo disse...

(...)

(gostei muito do blog novo).

beijo

[jb] jotabê disse...

ONDE HÁ AMOR NÃO EXISTE PERDÃO.
TUDO É PERCEBIDO COMO EXPERIÊNCIA DE FELICIDADES.

[jb]

Rubens da Cunha disse...

Douglas,
esta tua poética me perturba, me conflita.
Minha razão a chama de excessiva, pede para que metade do que vc diz seja suprimido,
meu coração ama esta exasperação, este muito dizer, este espalhamento pelo chão.
gosto disso, poucos conseguem isso, em vez de me satifazer, conciliar razão/emoção vc me divide, me reparte.
abraços
Rubens