terça-feira, agosto 02, 2005


As palavras surgem, caem uma a uma como gotas sobre o telhado, desenhando a circunstância de um certo tempo, o sossego de um certo lugar. Mediadoras de sílabas, sons, sofrimento e sobras, salvam minha sanidade e devolvem-me o sabor do sol – meus músculos vencem a resistência e, pela fresta de um sonho desgarrado, anuncio que o próximo poema está morto [faltou-me descrer no que vi; tudo que não se vê transparece magia] Uma canção do Neil Young, o grito-carne da alma do Artaud, girassóis devorando espantalhos, esperma, vícios, dignidade e devassidão. Estou diante do que escrevo e as imagens continuam arremessando frases naquilo que vejo. Na linha de fuga dos pássaros noturnos, sou meu próprio deus com medo de ser infinito. Agarrado ao epitáfio do homem- de- palha , mergulhado no vazio que cresce por dentro, eu evoco meus demônios mas eles já não podem escutar.

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