segunda-feira, novembro 28, 2005


estão sempre por perto, essas pessoas de olhos magros. nas ruas desertas, são elas que chegam e levam embora a demência que nos era companheira fiel e faminta. nos dias onde o calor provoca irritação e raiva, são elas as que riem escondidas atrás das portas, covardes e bondosas como todo bom cristão [amaldiçoadas sejam!] sempre esperançosas. sempre prestativas. sempre atenciosas. sempre por perto a sugar até a última gota do nosso desespero. e ficam ali. ficam aqui. ficam por todas partes. esperando pacientemente enquanto desfiam nossos cérebros com dedos de médicos envelhecidos e ausentes. esperando pacientemente, como se fosse a única coisa a fazer, como se soubessem que o amanhã será abatido pelas suas vozes veladas – vozes decompostas em sessenta cânticos, um pra cada volta do ponteiro, num ciclo sem fim a nos regular o humor, o comportamento, os usos, os costumes, as virtudes, as paixões, os lamentos, a dor, a solidão, os vícios[nada lhes escapa] pessoas assim são um teto escuro, dum céu escuro, duma vida engasgada entre os sonhos e as mentiras. seus olhos magros não têm fundo nem horizonte. não têm sangue nem alma nem pele nem brilho nem musculatura nem ódio nem sinal qualquer de emoções. não têm nada e de nada são feitos, estes imensos e incorruptíveis olhos magros que na dobradura do tempo esperam ansiosos por mim.

12 comentários:

isa xana disse...

nao gosto de olhos magros, gosto de olhos grande gordos que tudo absorvem tudo vêem:) mas gostei do teu textop, claro, sempre gosto ne? :)

sim, comi as estrelas cadentes e as outras tambem:)

beijo

Anônimo disse...

Estão sempre perto, mas também distantes, talvez sentem menos, talvez mais. Seus olhos há muito perderam o brilho. abs.

Anônimo disse...

voltaste??

Kimu disse...

Uau!

Fragmentos Betty Martins disse...

Douglas

E a chuva cai... na hora em que estou a ler o teu texto - "toco" nesses olhos para que o frio se dissipe... que não decorem o rasto dos teus passos... fico “presa” nas tuas palavras.

E este texto dá um frio, daqueles!

Mas como sempre...Adorei!

Beijinhos

Anônimo disse...

eu gosto de saber os olhos que me olham... e só olho nos olhos que quero olhar!
beijo

isa xana disse...

um beijo enormeeeeeeee pelo teu texto no meu blog:) poderei postá-lo por lá? deixas? :) (claro que digo que é teu!!)



*

deep disse...

sessenta rasgos nas barras frias de qualquer prisão...e um abraço

Amélia disse...

Belo texto, Douglas.Gosto sempre de te visitar.Boa semana para ti!

Claudio Eugenio Luz disse...

Preciso como o visitante que retorna e encontra a casa vazia.
.
hábraços, claudio

Cláudio B. Carlos disse...

Oi Douglas!

Passando por aqui...

Cristiano Contreiras disse...

desabafos da alma, han?!