você não avisou que era o fim. o quarto estava cheio do que nos faltava e ainda era cedo demais pro depois – a madrugada se recusava a aceitar o sol. e você saiu, deixando páginas escritas e palavras soltas pelo chão. você saiu e a mobília ficou, como ficaram também as xícaras esperando o café-da-manhã e as horas sem sentido que me perseguirão a cada volta dos ponteiros daquele relógio antigo que compramos num imaginário relicário europeu. as marcas na pele e as frestas dos desejos e os detalhes obscurecidos da dor. tudo, tudo isso ficou. era preciso um aviso, um bilhetinho, um rabisco qualquer, você deveria saber disso – escrito em azul que é pra não escapar da solidão. você tinha que ter deixado alguma coisa comigo, alguma coisa de sangue, de saliva e de ar. deixado um adeus que não fosse feito de palha desta palha que me ocupa os órgãos e que me estaciona bem no meio da mais árida das estações. era preciso um aceno e um copo de vinho tinto, o último. era preciso drama e paixão, daquela paixão que dilacera e faz da carne hospedeira. qualquer coisa, uma coisa qualquer que não essa indiferença muda que me acaricia os nervos e me dignifica o estado patético de ser lúcido até os ossos, quando eu deveria mesmo era ser um louco a pichar teu nome pelos quatro cantos do meu império rastejante e completamente viciado no vício extremo de ti.
quinta-feira, dezembro 01, 2005
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7 comentários:
Douglas
Bom... comentar este texto, não sei! já o li duas vezes (sei que outras virão). Por uma razão muito simples: está completo - e quando algo está completo, nada, mas nada se lhe pode acrescentar!
A não ser:
BRAVO!
Beijinhos
Gostei...
Belo texto!
é terrível quando as imagens se diluem... sou uma sonhadora...sonhos feitos de nuvéns de algodão doce(daqueles que derretem sabe?)
um beijo
Excelente narrativa. Em tudo, após a partida de alguém, encontramos rastros, cheiros e sentimentos.
.
hábraços,claudio
Douglas, teu texto deixa marcas profundas e mesmo com toda a dor presente, há sempre vida por viver.
Querido Douglas!
Às vezes me pego com medo do que vou encontrar... Porque, às vezes, o que encontro é insuportavelmente bonito. Assim foi hoje. Assim é este texto.
Dezembro promete!
secretamirada
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