por causa dos homens protejo o chão desse plantio onde a fé descobre carcomida estar. colho os sonhos que brotaram do esquecimento, alimentando-os como se meus fossem – tenho nas entranhas matéria desconhecida pelo sol. ó deus! escapo às noites, mas não aos seus pirilampos de sombras. povoa-me o temor. guardo vigília, vossa fé deixou-me só.
por causa dos homens curvados sobre ninguém, estórias de visagem já não se escutam mais. outrora, suas crianças sombreavam-se dos meus ombros brincando de inventar cores – ainda as guardo na memória, estranhas cores sem nome. ó deus! nem assim acolheu-me a felicidade, somente corvos a bicarem meus olhos. tenho medo, vosso desdém conhece-me os fantasmas
a eles, homens, eu devo escárnio e culpa. devolvi-lhes a ilusão da bem-aventurança. assim pude fazer-me eterno – minhas raízes sobrevivem ao cio da terra e à sede que arranca do céu tempestades. escondo dos infestos o destino. são minhas as almas trazidas pelo orvalho. aos meus pés repousam anciões desmemoriados. quando partirem, aqui estarei. eu, espantalho.
por causa dos homens curvados sobre ninguém, estórias de visagem já não se escutam mais. outrora, suas crianças sombreavam-se dos meus ombros brincando de inventar cores – ainda as guardo na memória, estranhas cores sem nome. ó deus! nem assim acolheu-me a felicidade, somente corvos a bicarem meus olhos. tenho medo, vosso desdém conhece-me os fantasmas
a eles, homens, eu devo escárnio e culpa. devolvi-lhes a ilusão da bem-aventurança. assim pude fazer-me eterno – minhas raízes sobrevivem ao cio da terra e à sede que arranca do céu tempestades. escondo dos infestos o destino. são minhas as almas trazidas pelo orvalho. aos meus pés repousam anciões desmemoriados. quando partirem, aqui estarei. eu, espantalho.
3 comentários:
este texto revolveu minhas entranhas...
postei você lá...olha.
um beijo
Sobrevoam o campo de centeio os corvos que outrora pintaram a morte em outros céus. São eles que arrancam do chão a esperança seca que cresce feito praga sob teus pés. São eles que devoram teus restos, teus trapos. Foram eles que bicaram teus olhos, amputando brilho e sorrisos e pregando em tua face esses botões negros e foscos, para fingir que podias enxergar. Mas desde que as cores do horizonte fugiram de ti como pássaros assustados, não consegues – são lágrimas teus olhos, escorrendo mornas sobre tua face de pano. Assim, permaneces relutante à fé que se arrasta, e não consegue te alcançar. Assim permaneces, a resguardar auroras e pores de sol e a guardar no peito mentiras que se proliferam sob teus retraços e te fazem sobreviver. Assim permaneces vivo, eterno na medida em que o tempo não passa para lá de onde o sol se esconde todo dia. E te deixa esquecido na paisagem do trigal.
tive lá no teu 'deus e outros escombros'e não consegui comentar. seria deus me impedindo a voz :))
gosto demasiado daqueles poemas religiosos. gosto daqui também.
vc já leu jorge de lima? a fase religiosa dele, penso que poderia haver sérias identificações :))
abraços
Rubens
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