dezembro passado escrevi imagens dia após dia, sem parar, não dando trégua ao que me consumia as tripas. havia tristeza e desamor nas minhas células de nada – minha estranha imersão na água que escapa às pedras. hoje, ao acordar, percebi que outro dezembro chegara e eu não passo de um homem lúcido e silencioso, um homem dissipado na ausência das emoções que me são caras, um homem acomodado entre as paredes deste quarto isento de cheiros [ toda assepsia nos esmurra o rosto já perto do amanhecer] um homem beirando a calvície [o tempo me é implacável quando rouba de quem fui a beleza]
hoje, acordei desgastado como um osso que não escapou ao cachorro vira-lata. incômodo, um fiapo de manga preso entre os dentes amarelados. desprezível, pedaço de unha cuspido no chão do quarto. hoje, dezembro espalmou minhas mãos diante de mim e eu pude ver todas as linhas em carne-viva, mendigando por quem não sou, rastejando por quem eu fui, me humilhando por não ter sido. as ressonâncias dos assombros que agora ressurgem atravessam meus escrúpulos sem pedir licença, cavando um abismo que me será refúgio e imensidão [por aqui, nada de novo. nada mesmo]
9 comentários:
o tempo traz o esquecimento de algumas dores...a sedimentação de outras...eu busco um tempo que traga alegrias...mas não acho
Por lá tbém não douglas, tbém não...Bjos.
Assim se materializa o tempo, esse componente mais estranho e verdadeiro da sociedade.
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hábraços,claudio
Oi Douglas!
Por aqui também, nada de novo.
Abraços do CC.
já estava bom, com a complementação..ficou ótimo
Sei ser este homem que abominas. Sei ser eu mesmo, mas impróprio.
Sentes o necessário para o amadurecimento...
o tempo nos desgasta a todos, poeta. somos todos fósseis do que fomos, reflexos caricatos de saudade e contrição.
dezembro é aterrorizante.
SAudações do Cárcere
há escrever, há fotagrafar, há isso que todos partilhamos contigo!
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