Há na vida da gente um lugar empoeirado, quase de todo esquecido, quase tingido de medo – um lugar azul da cor do azul que habita a solidão. Lugar lá dentro, bem dentro do silêncio e da crueza incompreendida de toda dor que dói desalmada, que dói encorpada, que dói como dor nenhuma quisera doer – essa cadência insustentável do que chamamos amor. Lugar nenhum, lugar secreto, lugar quieto, lugar deserto com um quê de inocência – onde assombração nos faz dormir assustados dum susto carinhoso que só avó sabe contar. Um canto de nada, preso entre as vísceras e a alma, entre os olhos e as pálpebras – um canto suave onde estrelas cadentes encontram os pedidos e devolvem o brilho que nós um dia de tão tristonhos que somos esquecemos de fazer ninar. Um canto mateiro onde rios desaguamos e mãe d’água entoa o que encanta pirilampos e faz noite enluarada com gosto de vento e de balanço de rede mansinha chegar. Um pedacinho de mundo onde criança fazemos desse adulto que inventaram nos ossos da gente alguém diferente capaz de mudar com um gesto pequeno, mas bem pequenino, essa vida capenga, doída e fingida pr’um mundo gigante, maior do que dantes – secreta magia de noite e de dia escrita em canção, vivida em poesia. Lugar invisível aflorado na pele, trançado no tempo – na eternidade do que já foi, na permanência do que está, na sensação do que virá – conjugação imprecisa do que nos alimenta os sonhos, do que nos purifica a lucidez, do que nos devolve a loucura, do que nos entrega aos domingos, aos doces domingos e seus bancos de praça, balões coloridos, pipoca quentinha e cachorros latindo de tanto brincar. Há na vida da gente um lugar sem nome, que não tem endereço ou vocação pra terminar, fazendo da gente gestação de centelhas, jardineiros secretos do jardim de girassóis que celebram auroras no amarelo dos dias que só um pintor soube pintar - lugar que nos faz de novo meninos, de novo euforia, de novo sorrisos com gosto de lar. Há na vida da gente um lugar sem fronteiras, lugar sem entrada, muito menos saída. Há nessa vida da gente um lugar encantado que nos faz sonhadores, loucos, loucos anjos sem céu algum pra guardar.
terça-feira, setembro 27, 2005
Há na vida da gente um lugar empoeirado, quase de todo esquecido, quase tingido de medo – um lugar azul da cor do azul que habita a solidão. Lugar lá dentro, bem dentro do silêncio e da crueza incompreendida de toda dor que dói desalmada, que dói encorpada, que dói como dor nenhuma quisera doer – essa cadência insustentável do que chamamos amor. Lugar nenhum, lugar secreto, lugar quieto, lugar deserto com um quê de inocência – onde assombração nos faz dormir assustados dum susto carinhoso que só avó sabe contar. Um canto de nada, preso entre as vísceras e a alma, entre os olhos e as pálpebras – um canto suave onde estrelas cadentes encontram os pedidos e devolvem o brilho que nós um dia de tão tristonhos que somos esquecemos de fazer ninar. Um canto mateiro onde rios desaguamos e mãe d’água entoa o que encanta pirilampos e faz noite enluarada com gosto de vento e de balanço de rede mansinha chegar. Um pedacinho de mundo onde criança fazemos desse adulto que inventaram nos ossos da gente alguém diferente capaz de mudar com um gesto pequeno, mas bem pequenino, essa vida capenga, doída e fingida pr’um mundo gigante, maior do que dantes – secreta magia de noite e de dia escrita em canção, vivida em poesia. Lugar invisível aflorado na pele, trançado no tempo – na eternidade do que já foi, na permanência do que está, na sensação do que virá – conjugação imprecisa do que nos alimenta os sonhos, do que nos purifica a lucidez, do que nos devolve a loucura, do que nos entrega aos domingos, aos doces domingos e seus bancos de praça, balões coloridos, pipoca quentinha e cachorros latindo de tanto brincar. Há na vida da gente um lugar sem nome, que não tem endereço ou vocação pra terminar, fazendo da gente gestação de centelhas, jardineiros secretos do jardim de girassóis que celebram auroras no amarelo dos dias que só um pintor soube pintar - lugar que nos faz de novo meninos, de novo euforia, de novo sorrisos com gosto de lar. Há na vida da gente um lugar sem fronteiras, lugar sem entrada, muito menos saída. Há nessa vida da gente um lugar encantado que nos faz sonhadores, loucos, loucos anjos sem céu algum pra guardar.
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12 comentários:
Continuo a gostar muito de vir aqui -para ler estes belos textos de prosa poética.um abraço, amigo.
há mesmo este lugar? às vezes me perco dele...ou acho que o perdi...
sabe que este texto...ou parte dele...daria uma belíssima imagem?
um abraço
... susto carinhoso que só avó sabe contar.
... anjos sem céu algum pra guardar.
Bonito, Douglas.
CC.
Texto delicado e cuidadosamente bem construído. Muito bom. Abs e obrigada pela visita.
tenho uma imagem para um trecho deste teu texto sim...o que chamo de ter uma imagem é que fiz algo semelhante ao que faço no meu blog, com um trecho deste texto...gostaria de coloca-lo lá se vc permitir...abraço
Esse é o lugar pra onde eu quero ir...
obrigada pela visita, sinta-se a vontade... eu me sentirei por aqui. ;)
Adoro visitar lugares antigos... os meus e os dos outros...
Por isso vim aqui hoje...
Apareça por lá, mais vezes...
Fiquei feliz por ter ido...
Bjo
está lá...
Vi a imagem que Valéria criou e vim conferir a espantosa beleza deste texto que posso ler e reler sem esgotar.
Querido Douglas
Obrigada por existir em minha vida de maneira tão especial...
Ler você é mexer no mais profundo de mim. Sempre. E sempre fico muito agradecida.
Beijo mineiro.
todos temos um lugar assim em nós
*
Voltei porque impossível não voltar.
Me ajoelho encantada ao ler-te.
Até mesmo o início de cada frase de teus *Previous Posts* formam um poema. A tua inspiração transpira por todos os poros.
Grande abraço
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