perfuro a realidade
[busco sonhos]
onde sonhos não há
[busco sonhos]
onde sonhos não há
[travessa do chaco número cento e setenta e dois
– ali moravam
a avó: conhecera vargas pessoalmente e disso orgulhava-se; mais tarde seria vitimada por um acidente vascular cerebral
o menino loiro: sonhava ser lennon ou barrett; adulto, mero advogado beberrão e insone
a criada: gorda, negra, sorridente e servil; terminará seus dias sozinha
o tio: ridiculamente histérico, afeminado e flácido
ali, as portas rangiam, o teto tinha goteiras, as paredes dos quartos e da sala há muito não eram pintadas
imune a todos, ana preta
a gata que escolhera aquela família como destino –
belém, 6 de janeiro de um ano qualquer.]
ana preta morreu
a gata angorá
que andava pelos corredores
daquele casebre e de todos sabia
trevas e demônios
agora
não os pode calar