sexta-feira, outubro 20, 2006


* DOR ESQUADRINHADA
(EM TRÊS LÂMINAS)

LÂMINA UM

viver
sem trazer chuva
arco-íris
abelhas
sol e
árvores
tocando o entardecer
a mim parecia impossível
- seria como sonhar em voz alta
não voar com os passarinhos do quintal
acordar sem espreguiçar
ou calar na garganta as cores
ilustradoras do eu-menino -

LÂMINA DOIS

assim era a infância
no meu mundo secreto
riscado em giz de cera
que me era infinito
feito de cirandas
de magias e de mistérios
como estrelas engolindo o mar
e parindo um céu novo a cada dia
(BRETON)

LÂMINA TRÊS
mas chegou o amanhã
e tinha gosto de nada
deixando em nossas mãos
um destino rabugento
vigilante de memórias
empoeiradas e distantes
caladas e baldias
para que a vida seguisse seu rumo
(eles disseram)
para que o homem seguisse sem vida
(eles sabiam)
feito bicho acuado
num canto de quarto
fingindo poesia


*do livro artesanal "infância(rabiscos em tons de silêncio)",
com 22 poesias
escritas pra menina que eu amo, numa única madrugada.

2 comentários:

marcia cardeal disse...

palavras que descem devagarinho rasgando a pele de dentro da garganta. roucas.

Cláudio B. Carlos disse...

Oi!
Gostei do poema.
Abraços do *CC*