por causa dos homens protejo o chão desse plantio onde a fé descobre carcomida estar. colho os sonhos que brotaram do esquecimento, alimentando-os como se meus fossem – tenho nas entranhas matéria desconhecida pelo sol. ó deus! escapo às noites, mas não aos seus pirilampos de sombras. povoa-me o temor. guardo vigília, vossa fé deixou-me só.
por causa dos homens curvados sobre ninguém, estórias de visagem já não se escutam mais. outrora, suas crianças sombreavam-se dos meus ombros brincando de inventar cores – ainda as guardo na memória, estranhas cores sem nome. ó deus! nem assim acolheu-me a felicidade, somente corvos a bicarem meus olhos. tenho medo, vosso desdém conhece-me os fantasmas
a eles, homens, eu devo escárnio e culpa. devolvi-lhes a ilusão da bem-aventurança. assim pude fazer-me eterno – minhas raízes sobrevivem ao cio da terra e à sede que arranca do céu tempestades. escondo dos infestos o destino. são minhas as almas trazidas pelo orvalho. aos meus pés repousam anciões desmemoriados. quando partirem, aqui estarei. eu, espantalho.