segunda-feira, outubro 31, 2005



Do meu deus que me espera, nada posso ter. Do batismo que não lembro, meu nome me carrega quando esqueço de mim. Poucas linhas estão vagas, as palavras cansaram da gente – dor, esperança, perdas, ambições, tudo isso cansa, e as palavras cansaram. Que descansem então onde eu não possa alcançá-las. São cores mudas no meu jardim de flores mortas. Pássaros cegos no meu paraíso insone. Anjos doentes sob a luz do martírio [meu inferno será teu eco, meu poema oco de ti]

Dos meus dias entrincheirados trarei as estrelas dos teus poentes. Minha solidão é o ponto que me mantém lúcido, o lugar exato da redenção. Minhas madrugadas contém horas ímpares, horas vagas por onde procuro em vão a tua companhia. Entreguei a ti os meus desígnios. Abri buracos no céu pra que tu pudesses respirar. Menti orações. Adormeci segredos manchados de fé e testemunho. Meus caminhos tortos. Minha vida mundana [e agora, o que fazer se não estás mais aqui?]

Alcancei o vento e fiz do musgo tempestade.
Sou um homem de palha.
Eu sei fingir sorrir.
Eu sei fingir chorar.

8 comentários:

  1. "Minha solidão é o ponto que me mantém lúcido." Grande, Douglas, passagem maravilhosa e certeira. abs.

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  2. senti a palha aqui dentro, espalhando, não tem jeito, ou amor-teço ou amorteço. Bjo.

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  3. OÁSIS
    "Como saber se um oásis
    é uma miragem ou não,
    se somos dois camicazes
    que não conseguem jogar o avião?
    Como chegarei bem perto
    da fonte onde nasce o desejo,
    se existe um grande deserto
    na frente dos olhos que eu vejo?"MOSKA)
    um beijo moço...fique bem

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  4. Desapareço, mas quando volto, venho correndo ler vc...
    E sua sensibilidade é recompensa...

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  5. Sabes, como poucos, lidar com as palavras e jogar com os ritmos da linguagem.

    ..
    hábraços

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  6. Douglas

    Que texto... que sentir!!!

    O chão da palavra
    mostra a tristeza
    o olhar fácil
    do horizonte
    numa manhã de silêncio
    o corpo
    se resume
    a um sonho só
    como se fora um sol
    e precisasse
    de aquecer o mar...

    Beijinhos

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  7. Desta vez você se superou, poeta. Um texto irretocável, pesado, cru, tenso... haja adjetivos.

    Saudações do Cárcere

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