quinta-feira, abril 23, 2009


perfuro a realidade
[busco sonhos]
onde sonhos não há

terça-feira, abril 14, 2009

[travessa do chaco número cento e setenta e dois
– ali moravam
a avó: conhecera vargas pessoalmente e disso orgulhava-se; mais tarde seria vitimada por um acidente vascular cerebral
o menino loiro: sonhava ser lennon ou barrett; adulto, mero advogado beberrão e insone
a criada: gorda, negra, sorridente e servil; terminará seus dias sozinha
o tio: ridiculamente histérico, afeminado e flácido
ali, as portas rangiam, o teto tinha goteiras, as paredes dos quartos e da sala há muito não eram pintadas
imune a todos, ana preta
a gata que escolhera aquela família como destino –
belém, 6 de janeiro de um ano qualquer.]


ana preta morreu
a gata angorá
que andava pelos corredores
daquele casebre e de todos sabia
trevas e demônios
agora
não os pode calar

sexta-feira, abril 10, 2009

era feita de carne e osso não era esse arremedo de mulher escondido sob tanta amargura desconfiança melancolia e desamor que pune a si ao enumerar forçosamente cada detalhe da madrugada onde tudo começou [aje desta maneira todos os dias exceto aos domingos quando finge estar em paz] porque não pode esquecer primeiro ter escutado o barulho de passos encurtando a distância entre os quartos seguido pelo ranger da porta que espantou pra sempre o seu anjo da guarda [por isso mais ninguém ouviu aquele sussurro ordenando que ficasse bem quietinha] e assim ficou a madrugada inteira sem saber que outras madrugadas ainda viriam deixando pra trás um silêncio sem nome [de lá pra cá perdeu a conta de quantos consigo deitaram fantasmas que foram] sabe apenas que nenhum será tão sujo mentiroso e assustador porque aquelas mãos a conheciam desde criancinha [e se antes aqueles abraços traziam proteção e segurança hoje são abismos de onde não saberia mais voltar]

terça-feira, abril 07, 2009



tu me sufocas tua presença é sombra quarto vazio que não consigo desocupar por isso de uma vez por todas é hora de dar um basta preciso de distância de um lugar livre da tua superfície você dizia com uma convicção aterradora enquanto eu continuava o processo de transfigurar qualquer sinal de emoções em paisagens habituais momentos já vividos perguntas já respondidas reações já sabidas nada de riscos então porque só assim saberia digerir a culpa que repetias ser apenas minha esquecendo que houve um instante um gesto um ponto onde a verticalidade enganosa da felicidade nos fez tropeçar naquilo que críamos ser amor e que agora adoece diante de nós ar rarefeito que é.