à noite espessas recordações alcançam anjos deserdados acobertando a boca seca da poesia:
ORVALHO
segunda-feira, janeiro 15, 2007
nessa noite despovoada que estacionou diante de mim observo as mãos hábeis da solidão
apertarem e afrouxarem apertarem e afrouxarem apertarem e afrouxarem
meu pescoço na medida exata para que alguns anjos e
um terno de demônios sobrevivam lúcidos
ao amanhecer
terça-feira, janeiro 09, 2007
fecho os olhos à dor tenho pálpebras que ensoalham mínimas paisagens roubadas do bolso daquela velha camisa do meu avô morto
segunda-feira, janeiro 01, 2007
meus demônios os que estão aqui fragmentam a noite correndo em círculos ou simplesmente parando diante de mim
meus demônios os que estão aqui ruminam a felicidade brincando de nada ou mansamente apostando em quem viverá
DEUS há portas que eu não deveria ter atravessado o caminho de fé que segui deveria ter sido murado palavras que cometi, cores que respinguei, sonhos que acreditei as tuas mãos suportando meus medos, eu não deveria tê-las permitido
meus demônios os que estão aqui dissecam a esperança apostando nos homens ou cinicamente sorrindo pelas minhas costas
meus demônios os que estão aqui abortam a alvorada cultivando-nos as virtudes ou sabiamente protegendo em si os pecados
DEUS há certezas que eu não deveria ter provado a retidão que no corpo atestei deveria ter sido cuspida parcimônias que assegurei, caridades que semeei, sorrisos que ilustrei os teus anjos protegendo o meu destino, eu não deveria tê-los admitido
(Que venha dois mil e sete. Aos seus doze meses sobreviveremos como quem salta outro abismo, sem pedir perdão.)