quarta-feira, setembro 29, 2004

Chuva. As ruas calam-se em solidão. Pessoas escondem-se não sei do quê. Guardam pedaços de nada. Daquilo que não possuem. Do brilho esquecido nos olhos. Da felicidade encaixotada. Da vida baldia. Dos sonhos imaculados. Das memórias raquíticas que rastejam em Belém do Pará.
O azul que a noite devora. A melancolia contida no peito. Uma cicatriz feita de solidão. O livro aberto numa página qualquer. A distância revelada pelas sombras. A solidão mudando de forma. O teu olhar...aquilo que desconheço.

domingo, setembro 26, 2004

Silêncio. As palavras calaram. Olhos que ainda não sabem terem se encontrado. Uma estranha sensação de cumplicidade. A madrugada partiu. Ruídos anunciam o sol. Sim, existe uma certa distância. Mas o mistério. O desejo desconhecido. O ímpeto voraz. A insensatez...Ah! A insensatez...Amanhece. Feito loucos, espalham sonhos. Girassóis. Precisam de mais.Muito mais.

sábado, setembro 25, 2004

Havia carros naquela madrugada fria e calada. Vestias preto e teu batom era de uma cor estranha, mas nunca vulgar. Foram precisos cinco longos minutos para que a lua ruísse. Estrelas e mariposas cinzentas vieram dançar nos teus cílios. Alongados. Como se nada mais houvesse, um toque e a manhã feito pedra mergulhou no peito. Doses desmesuradas de lascívia. Destino desfeito nas entrelinhas do tempo. Diante do silêncio, escrevi palavras sem dor. Fragmentos de memórias, escassos e por demais azulados, entulhados nas margens da imensidão, encenavam tristeza e agonia. Um agudo desconforto percorrendo cada poro do corpo nu. A boca carnuda e vermelha fora incapaz de satisfazer as maledicências do homem. Viciado, resta-lhe vagar pelas calçadas imundas de piedade cristã. Adormeceria sem o gozo da fêmea.
Habita-me!
Preciso de sons e formas que me façam sonhar. De paisagens antigas. Da cor do destino incrustada nas fotos.
Habita-me!
Meus pulsos são arremedos. Daquilo que em mim resiste, minhas mãos já não sabem expressar.
Pinto velhas casas e praças dominicais.
Falta o cheiro.
O pesar das roupas que ficam.
Quando você foi.
Pra nunca mais.
Devoro a minha sombra

preciso de companhia.

Esfrego os olhos

preciso de disfarce.

Pinto uma tela azul

preciso de loucura.

Amanheço...

Quero um pouco de paz.

quinta-feira, setembro 23, 2004

A tarde vai teminando. O calor continua forte. Belém é úmida. Umidade relativa do ar...muito suor. Ouvindo Peter Gabriel e Robert Fripp...Here comes the Flood...

Calor. Muito calor.


Quando as tardes parecem manchas no centro do horizonte
E as nuvens esquecem de quem és.
Quando o único som que te abraça é teu coração vazio
E as promessas amontoam-se no chão empoeirado do quarto.
Escurece a solidão

Pinta na alma um azul manchado de sonhos
Agasalha as estrelas cadentes no fundo do peito
Guarda tuas luas de gesso
Finge que mais nada existe.
As auroras costumam chegar


Quero mais da madrugada. Como se fosse possível sempre ir além. Um mergulho e enraizar a vertigem na medula. Estou insone.Na verdade, dormi de tarde o que é raro. Logo mais, meu aniversário. Isso deveria significar algo? Não sei fazer canções. São imagens que me invadem. É vital vomitá-las.


Um pouco mais de azul, seria incerto. Um pouco mais de sonhos, o chão. E das margens fazer precipício. Acolher pingos de chuva nas manhãs sem girassóis. Esta inconstância enroscada feito lesma aos meus dedos errantes. Esses rascunhos cobertos de sons e de sombras. Estas virtudes febris. Um pouco mais de loucura, seria deus.

Agora, ouço Nick Drake...quanto tempo falta pro amanhecer?

precisa sempre de título?

Quero mais da madrugada, repeti pra mim mesmo. Começo a escrever, pois é o que me soa mais insensato neste momento. Alguém que nem sei quem me disse... por que vc não faz um blog. Blog?? I'm a blogger now? Coisas do virtual. Tá rolando Beefheart. Não sei como postar uma foto. Terei saco de aprender? Vomito mais uma imagem. Veja só:

Nos teus olhos, o que desconheço. Marcas daquilo que me assombra a pele nua. Os sentidos...

Ah! Como ardem as memórias nas madrugadas de solidão.

[As paredes guardam o cheiro da ausência. Mergulham a dor no mais profundo azul.

São como sonhos desgarrados escorrendo pelo canto da boca. Feito mãos que nunca encontraram o mar.]

23-09-1967

Madrugada avançando. A distância crescendo nos ossos. A distância manchada de solidão. A distância roubando imagens...Acolhe-me. Abraça-me. Canta uma canção de ninar. Hoje eu preciso de companhia e não do silêncio.